Pioneiros da fotografia em Rio Grande constituiu um projeto pesquisa de caráter histórico, desenvolvido no período compreendido entre março de 2009 e agosto de 2010, filiado à iniciativas de resgate e preservação da história e da memória. A motivação para seu desenvolvimento se justificou em um primeiro momento pela constatação da inexistência de trabalhos sistematizados sobre este assunto. Em um segundo, pelo fato de que os jornais da época que poderiam oferecer informações sobre o tema, e disponíveis na Biblioteca Riograndense, se encontram em total estado de deterioração denunciando a premência de salvaguardar os dados neles constantes. A fotografia esteve presente na cidade do Rio Grande desde os primórdios dessa prática no país constituindo-se em uma atividade relevante dos fazeres humanos nesta comunidade, portanto, um elemento conformador da história, memória e identidade da região e por consequência do país.

 

O desenvolvimento da pesquisa

            O método de trabalho desenvolvido consistiu em consultar, cronologicamente, todos os jornais disponíveis a partir do ano de 1845 - data delimitada em razão do surgimento da fotografia no Brasil - e coletar todo e qualquer dado referente à matéria fotográfica, fosse matéria publicitária, notícias de eventos, viagens ou comércio. Todas as informações sobre as fontes de investigação e dos dados coletados foram identificadas: nome e data dos jornais, número do jornal, das páginas consultadas, além da compilação dos conteúdos localizados. Para a sistematização dos dados referentes aos fotógrafos e as práticas fotográficas elaborou-se uma ficha de identificação com os seguintes dados: nome, nacionalidade, processos fotográficos com os quais trabalhou, tipo de atividade fotográfica desenvolvida (retratos, paisagens etc.), endereços nos quais fixou seu estabelecimento e residência na cidade.

            Fez-se 45 visitas à Biblioteca Riograndense, de cerca de 4 horas cada uma. Examinou-se 150 pastas, aproximadamente 150 jornais, em 20 tipos de publicações distintas, dentre estas o Jornal Diário do Rio Grande e o Artista , Riograndense. O total de periódicos consultados somou 18.868, muitos de difícil manuseio pelo estado que se encontravam. Os dados foram encontrados em anúncios publicitários, da época, precisamente 146, todos relacionados às práticas fotográficas na cidade.

            Entre 1845 e 1900 identificou-se a presença e ou passagem de 38 (trinta e oito) fotógrafos, entre eles apenas uma mulher. Os processos fotográficos identificados foram o daguerreótipo, seguidos do ambrótipo, eletrotipo e da fotografia já em seu formato convencional, e as nacionalidades incluem franceses, italianos, ingleses, alemães, espanhóis e portugueses.

            Fontes históricas acadêmicas foram consultadas a fim de averiguar se os fotógrafos aqui localizados encontravam-se referenciados nestes documentos, porque, no período pesquisado a prática fotográfica foi marcada pela itinerância. Em alguns casos encontrou-se referência a fotógrafos aqui identificados, em outros estados, bem como, dados referentes à nacionalidade, data de chegada no Brasil – no caso dos estrangeiros – e outras especificidades de seus trabalhos. Os dados encontrados sobre eles, tais como endereços fixos, ou a inexistência deste dado, por exemplo, permitiram deduzir – ainda que não se possa afirmar com precisão - que a maioria deles atuou na região de forma itinerante. E esta dedução encontrou ressonância no cruzamento de dados com outras fones tais como livros históricos sobre o tema, que indicam a itinerância como uma característica comum no contexto da época pesquisada em razão de que a profissão de fotógrafo estava em formação e os poucos que detinham conhecimento do ofício viajavam oferecendo seus préstimos em muitas localidades . O trabalho de cruzamento de informações forneceu ainda dados importantes sobre estes profissionais como, por exemplo, em alguns casos permitiu identificar a nacionalidade e data de chegada deste fotógrafos no Brasil – no caso dos estrangeiros – bem como algumas especificidades de seus trabalhos.

            O Projeto Pioneiros da fotografia confirmou a relevância desta iniciativa para a cultura e a história da cidade do Rio Grande. Os dados encontrados em sistematizados são abundantes e provocativos e sugerem, por suas características, análises cuidadosas, portanto, sugerem a continuidade das reflexões. De antemão dizemos que o conjunto dos dados, para além dos seus objetivos iniciais, revela informações muito importantes sobre a história da fotografia e da imagem na América Latina e apontam para o fenômeno da globalização da fotografia e da imagem, aspecto ao qual dedicamos nossa atenção neste momento. A etapa de pesquisa desenvolvida, que resultou na publicação do catálogo intitulado Pioneiros da fotografia em Rio Grande. 1845 - 1900, confirmou também, para além do seu objetivo inicial, a necessidade de sistematizar e aprofundar este tema dada a sua riqueza e importância histórica. Por outro lado coimprovou a lacuna existente neste setor de investigação, e por consequência o descaso sobre a história e a memória da cultura riograndina – fato que exige uma discussão com àqueles interessados neste setor, sobre o presente e o futuro desta situação em nosso município. 

             O Projeto Pioneiros foi concebido em sua metodologia, e coordenado em sua execução pela professora Teresa Lenzi. Já, o desenvolvimento de todo o trabalho da pesquisa de campo e sistematização dos dados foi feito pela pesquisadora Flavia Menestrino, à época, estudante do Curso de Arte Visuais/FURG.